29.11.10

A Coisa

Caros leitores, imagino que todos vocês já tomaram conhecimento e inclusive estejam cansados de ouvir falar da “retomada do estado” no conjunto de favelas cariocas conhecido como Complexo do Alemão. Provavelmente já leram alguma coisa na internet ou mesmo ingeriram o positivismo contagiante, ufanista e ilusório oriundo destes jornais sensacionalistas (e talvez tenham até acreditado), mas tomo a liberdade de apresentar-lhes um ponto de vista que julgo ser tão simples que desacredito que vocês não tenham imaginado.
Do começo, quanto a “retomada...” ou retorno como outros veículos batizaram não condiz com a verdade uma vez que o estado nunca se fez presente em tais lugares, logo, se o estado nunca teve como poderia retomá-lo?
Este primeiro questionamento nos leva a um segundo que é o de pensar se agora o estado tomou posse daquilo que nunca requereu o seu interesse, exceto em campanhas políticas eleitoreiras, passará a se fazer presente e embora estejam falando que sim, sabemos que promessa de políticos...
Mas o mais importante e também mais assustador é que uma vez retirado os traficantes de uma determinada favela nada impede que a chamada milícia tome o lugar dos traficantes. Aí vocês me perguntam, mas como se os policiais estão acampados lá? e eu respondo que a milícia é basicamente formada e composta por policiais da ativa e da reserva. Talvez muitos destes que hoje estejam com esta máscara de guerreiros e heróis, sejam os vilões de amanhã e francamente eu não duvido disto.
É claro que sou solidário a todas as pessoas que sofrem e sofrerão com este drama imposto tanto pela criminalidade como pela ausência do estado e inclusive me sinto mal em ser o porta-voz de uma possível futura desgraça mas o que eu pergunto é por que isto não foi feito antes?
Pela facilidade (diga-se de passagem, duvidosa!) que os agentes encontraram para invadir a favela é fácil concluir que se fizessem isto antes a criminalidade neste estado seria mais baixa há tempos. Algo me faz pensar que teve um certo desejo pessoal de dar uma reposta a quem questionava, ou seja, nós do povo, parte da imprensa, pessoas ligadas ao meio artístico de uma forma geral, etc. Só para situar-los toda esta operação (que falavam ter sido planejada por dois anos) só foi executada após as eleições.
É fato que o consumo de drogas nunca acabará e se existem pessoas para comprar, existirão pessoas para vender. O roubo de carros e outros bens nunca acabará e se existem pessoas para comprá-los, existirão pessoas para roubá-los e vendê-los.
A simples “retomada” é uma injeção na auto-estima da população, dos policiais, dos empresários que verão o Rio como uma cidade tranqüila e conseqüente boa para negócios (a começar pelo setor de turismo, talvez uma das grandes razões de toda esta operação), mas infelizmente não representará muita coisa a médio e longo prazo se não vier acompanhado de medidas preventivas e combativas da criminalidade e seus estimuladores como o consumo de drogas, o jogo do bicho, máquinas caça-níqueis, bingos, a compra de produtos piratas, etc.
Hoje sem humor e rezando para eu estar enganado, me despeço.